Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club | Review
A franquia de visual novel Famicom Detective Club fez um surpreendente retorno em 2021, com dois remakes exclusivos de Nintendo Switch, The Missing Heir e The Girl Who Stays Behind , de 1988 e 1989 respectivamente. Projetos elaborados por Yoshio Sakamoto que ,além de trabalhar em inúmeros games da Nintendo há mais de 40 anos (como diversos títulos de Donkey Kong e Metroid) volta a Detective Club com sua terceira entrada da franquia Emio The Smilling Man.
Será que essa aventura oitentista funcionou bem? Vamos conferir em mais uma análise do Pizza Fria!
Introdução ao mistério
Seguimos um jovem detetive, nomeado pelo jogador, que se depara com um assassinato de um estudante, estrangulado e um saco de papel colocado em sua cabeça com um sorriso desenhado. Uma cena idêntica a uma série de mortes na mesma região ocorrido há 18 anos que aparenta estar ligado a lenda urbana de “Emio O Homem Sorridente”, que aparece em frente a garotas chorando e as mata. Resta ao jogador investigar essa lenda e descobrir que relação ela possui com o atual e antigo caso.
Embora seja o terceiro título da série, a narrativa não está vinculada a eventos dos jogos anteriores, apresentando apenas leves referências a interações e acontecimentos passados de certos personagens. Isso torna o jogo acolhedor para novos jogadores na franquia, embora o enredo demonstre pouco interesse em evoluir seus personagens, com os protagonistas permanecendo inalterados do início ao fim (enquanto os personagens secundários têm um desenvolvimento melhor). Acredito que isso pode frustrar apenas os jogadores que já são veteranos na série, mas ainda assim, há interações menores, porém divertidas e esclarecedoras, entre os personagens principais que compensam a falta de um arco dramático mais tradicional.
Para os padrões de exclusivos da Nintendo, o jogo apresenta mais temas e imagens fortes que de costume. Ainda que Emio esteja no nicho de horror/mistério, não chega a um ponto de chocante e perturbador como outras visual novels de terror como Saya No Uta. Isso se deve ao trabalho de trilha sonora com um clima mais Upbeat, e toques de humor variando de mais simples trocadilhos até flertes mais sugestivos, rendendo um tom bem característico (e bem executado) de histórias investigativas das décadas de 80 e 90.
Solucionando o caso
Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club foge um pouco da narrativa direta de uma visual novel mais convencional. Ao invés de longos trechos de leitura do jogador, o game constantemente vai requisitar interação com detalhes da tela. São diversas opções como Refletir, Engajar Conversa e Analisar uma pessoa ou objeto no cenário de fundo por exemplo. O jogo de fato requer que o jogador use essas mecânicas atentamente, caso contrário a cena não avança. De uma simples conversa em um bar até analisando uma cena de crime, o jogador só vai progredir ao escolher a opção correta.
O game é divido em 12 capítulos, variando de duração de 25 a 60 minutos cada. A duração varia dependendo do interesse do jogador em interagir com tudo em cada nova cena e revisitar os fatos apresentados em seu caderno, a cada nova descoberta uma nova informação é adicionada nele e pode ser revisada pelo jogador a qualquer momento para melhor entendimento do enredo.
No final de cada capítulo, o protagonista e sua parceira revisam os fatos, e aqui Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club de fato testa o quanto você está acompanhando o enredo com perguntas especificas, mas necessárias, das recentes descobertas. Vale mencionar que mesmo com diversas interações, a história não será afetada por você errar em escolhas, o título apenas te informa que sua dedução está errada e segue em frente.
Em conteúdo extra, Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club também é satisfatório, uma avaliação de como foi o seu comportamento ao longo da campanha (Lembrando um pouco Silent Hill Shattered Memories) ouvir as músicas livremente no menu, seleção de capítulos, desativar a voz do protagonista e um novo segmento complementar da história que visual e narrativamente se diferencia bastante das horas anteriores, finalizando a experiencia em uma nota alta.
O disfuncional
As interações variadas com cenários e personagens acabam sendo o ponto fraco de Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club. As cenas que se concentram inteiramente no mistério e na investigação são envolventes e desafiam o jogador, mas a mesma jogabilidade em momentos mais cotidianos, como uma conversa dentro de um carro ou em um restaurante, pode prejudicar significativamente o ritmo e tornar-se tediosa ou frustrante. Uma cena que normalmente levaria cinco minutos para ser concluída pode levar o dobro do tempo se escolhermos as opções incorretas, o que pode parecer insignificante, mas acumula um tempo considerável considerando a frequência com que isso ocorre.
O desfecho da investigação contrasta com a narrativa que Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club vinha construindo nas últimas dez horas. O ritmo paciente e meticuloso é subitamente substituído por dez minutos de várias revelações jogadas ao jogador, e logo após, a história termina. Devido a essa conclusão precipitada, vários personagens importantes e recorrentes não têm suas reações às revelações exploradas, parecendo ser esquecidos pelo enredo. Mesmo que o jogador desvende o mistério antes do final, ao contrário de jogos como Her Story ou Detroit: Become Human, nenhum benefício adicional é oferecido.
Vale a pena comprar Emio The Smilling Man: Famicom Club?
O comprometimento da Nintendo é evidente, com um trabalho de dublagem competente, gráficos atraentes e, de modo geral, um projeto com identidade forte. A narrativa apresenta momentos de suspense de forma eficaz, mantendo-se criativa, empolgante, divertida e sinistra, sem nunca perder o interesse. No enredo, o único ponto que destoa é o encerramento súbito da investigação. A obrigatoriedade de interação constante do jogador com todos os elementos (sem consequências além da não progressão da cena) pode ser um incômodo. Contudo, esses problemas são atenuados por uma trama excelente e bem construída que, em seus muitos pontos altos, mantém o jogador completamente absorto.
Apesar de ser um exclusivo da Nintendo, Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club não apresenta nenhuma interação com touchscreen ou movimentação, o que poderia ter sido um fator diferencial já que constantemente estamos clicando em personagens e nos cenários de fundo. Mais do que ausência de funções do console, o real incomodo é o valor cobrado por um jogo que apresenta dúzias de escolhas, é completamente linear e nem diferentes desfechos para situações menores apresenta. Além de nenhuma tradução para o português infelizmente.
Emio The Smiling Man: Famicom Detective Club foi lançado no dia 29 de agosto e está disponível exclusivamente para Nintendo Switch.
*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.