FIFA 20 | Review

Entra ano, sai ano, sempre temos um novo FIFA saindo. E não é pra menos: para se ter dimensão do êxito da série, somente no último ano fiscal, a Electronic Arts lucrou por volta de US$ 3,722 bilhões, sendo boa parte advinda do modo Ultimate Team. E com FIFA 20 a fórmula bem sucedida segue firme, mesmo alguns erros.

Mas a sina segue: em cada nova versão, os jogadores seguem bastante divididos. Enquanto uns criticam copiosamente, outros adoram. Alguns ficam no meio termo, batendo, mas jogando – e isso talvez aconteça por faltar concorrência (ou a comunidade ignorar massivamente o eFootball Pro Evolution Soccer). Enfim, certamente você chegou até aqui curioso pra saber nossas impressões sobre FIFA 20, não é mesmo? E é isso que tentarei trazer ao longo desta crítica.

O que há de novo em jogo?

Antes de mais nada, não há como não começar essa crítica sem falar da principal novidade de FIFA 20, o Volta. Este modo traz novamente ao jogo uma espécie de FIFA Street. Aqui, você pode jogar o modo The Journey, fazendo parte de uma equipe de freestyle que rodará o mundo dando um show de habilidade. Nesse aspecto, será possível selecionar diversos personagens. Enfatizo aqui o golaço da EA em introduzir, mais uma vez, mulheres no universo FIFA.

Feito isso, é aprender as mecânicas, que são um pouco diferentes do jogo principal. Aqui, você deverá driblar e acertar o gol, seja contra o computador ou seus amigos. O modo até é divertido, sobretudo ao jogar com na mesma tela com até quatro pessoas, algo que garante muitas gargalhadas. Porém, existem algumas questões a serem tratadas. O modo, pelo menos pra mim, deixou a desejar, não sendo tão incrível quanto poderia ser.

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Se prepare pra driblar bastante no Volta. (Imagem: Divulgação)

Talvez as coisas melhorem no Volta

Talvez por ser uma primeira versão, no futuro certas coisas mudarão. Todavia, por enquanto, senti que deixou a desejar. Sobretudo em algumas repetições no Modo História, em que os personagens rivais se repetem com os mesmos que você já utiliza. Não sei se faltou tempo, criatividade ou é um erro, mas é um aspecto negativo que deve ser tratado.

Contudo, fazendo aqui o papel de “advogado do Diabo”, é interessante de se ressaltar, que mesmo não sendo tudo isso, o Volta traz uma forma diferenciada de se jogar FIFA. Sobretudo por adotar uma postura mais “arcade” da coisa. Com isso, futuramente pode se tornar em um novo vício da comunidade. Ou não…

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O modo Volta. (Imagem: Divulgação)

Ultimate Team e mudança de jogabilidade

Estas são duas questões extremamente relacionadas que merecem uma análise. Como se sabe, o FIFA 20 segue com a fórmula de sucesso do consagrado modo Ultimate Team (importante fonte de renda da EA). Além disso, seguem também suas cartas bizarramente exageradas. Todavia, no geral, as premiações e disputas seguem pouco modificadas em comparação à versão anterior.

Há uma questão que deixa os jogadores ensandecidos neste modo: a jogabilidade. Sim, entre os modos de jogo local e uma peleja no Ultimate Team há uma gritante diferença na gameplay. Em FIFA 20, a EA não especifica as diferenças tal como faz em Madden NFL 20 ou em NHL 20 onde podem ser observadas três divisões de como jogar, sendo divididas assim: um modo voltado para algo próximo à simulação; outro para arcade, sem tantos detalhes; e um modo competitivo. Talvez a EA devesse deixar isso mais explícito no futuro.

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A imersão está bem interessante. (Imagem: Reprodução)

Mudança na gameplay

Quem já jogou o fatídico Ultimate Team sabe do que estou falando. Inclusive, é bem comum tomar um gol de um cara veloz (e barato) como o Musa, aos 45 minutos do segundo tempo. Assim, percebe-se nitidamente que a jogabilidade conta com algumas modificações além dos boosts nas cartas de jogadores em geral e os Icons, que são lendas do futebol mundial. Esse ponto pode ser um problema para uns e, para outros, “lance normal, segue o jogo”.

Eu particularmente acabei pulando fora desse modo, que é muito estressante. É uma escolha, mas é bom deixar claro que, no geral, não há nada de absurdo na EA em fazer isso. Ou seja, a ira causada pelo fatídico modo diz mais sobre nosso interesse em competir e da nossa habilidade do que propriamente do game. Como eu disse, são escolhas…

Em minha modesta opinião, já deram uma estragada legal nos sistemas de batida de pênalti e falta, mudando algo extremamente tradicional de todos os jogos de futebol. A gente cresce jogando, aprendendo e, do nada, decidem colocar um monte coisa: barra, circulo, puxa pra lá, pra cá… É complexo demais! Nesse ponto, por exemplo, FIFA 20 não melhorou. Eu preferia muito as formas tradicionais.

O Modo Carreira e as novidades (e erros)

Outro ponto que merece ser citado (embora a EA não dê muita importância) é o Modo Carreira. Agora, ele conta com mais opções, escolha e customização do técnico ou técnica que comandará sua equipe. Além disso, você poder ir modificando pequenos detalhes estéticos ao longo da temporada. Outra questão bem bacana é que o modo conta com alguns diálogos mais bem elaborados entre técnico e jogadores. Todavia, ainda não é possível que você inicie uma conversa com um jogador ou todo o plantel. No geral, é legal ver essas pequenas implementações, extremamente necessárias para aumentar a imersão do jogo.

Outro detalhe que também foi um pouco modificado é a moral da equipe e dos jogadores. Suas ações e resultados ao longo dos jogos influenciarão os jogadores, que responderão de diferentes formas. Por exemplo, caso você coloque um jogador pouco utilizado à venda, ele pode se gostar e agradecer. Nessa situação, você tem três tipos de respostas: uma negativa e duas mais leves, buscando manter o bom clima mesmo com o desejo de vendê-lo.

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Os vários tipos de treinadoras e treinadores. (Imagem: Divulgação)

Os resultados obtidos ao longo da temporada, o tempo em que cada jogador permanece jogando e a relação com o treinador e suas escolhas são pontos que influenciam bastante o moral individual e coletivo. É interessante ver como os jogadores podem reagir durante uma disputa por titularidade, por exemplo. Sendo assim, antes de negociar com outros times, tudo deve ser bem pensado para não baixar o moral dos atletas. Por isso, sempre dê o papel certo para cada um deles na hora do contrato.

Além disso tudo, você também poderá participar de coletivas e responder a algumas perguntas. Assim, o jogo sai do limitado modelo que era adotado nas outras versões. Isso traz atmosfera extremamente necessária, sobretudo em um jogo onde você simula o papel de um treinador.

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Os detalhes estão aprimorados. (Imagem: Divulgação)

A mancada da EA com o Modo Carreira de FIFA 20

Porém, nem tudo são flores no Modo Carreira. A EA deu uma mancada terrível no modo, algo que acabou gerando a hashtag #FixCareerMode, que foi até Trending Topic do Twitter. Por meio das reclamações dos jogadores, descobriu-se que FIFA 20 tinha sido lançado com um problema em sua programação, que facilitava as vitórias no modo, gerando assim toda essa confusão.

Diante dessa situação, eu questiono: como pode uma companhia tão grande quanto a Electronic Arts não se importar com seus clientes e lançar um jogo “quebrado”? Isso é um problema muito sério. Contudo, depois de muita pressão, a EA se comprometeu a resolver o problema. Menos mal.

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Mesmo errando, o modo está bem melhor. (Imagem: Divulgação)

Uma breve comparação: FIFA 20 x eFootball PES 2020

Antes de cravar uma opinião conclusiva, creio seja interessante ressaltar algo que a comunidade sempre faz: a comparação entre FIFA e PES. Sabe-se que ambos são únicos jogos de futebol, o que torna impossível não haver nenhuma comparação, mesmo com os dois tendo alguns detalhes diferentes.

Tive a oportunidade de jogar ambos as títulos e a impressão que tive é a de que necessitamos urgentemente de uma terceira via para tirar EA e Konami de uma certa “zona de conforto”. Todavia, abordo isso mais pelo lado da EA. Inclusive a Konami vem apresentando uma curva de crescimento bem mais interessante. Contudo, pelo menos na minha opinião, segue perdendo para o FIFA, sobretudo no quesito licenças, onde a EA detém os direitos de diversos campeonatos como a Champions League, Europa League e, em março de 2020, com a Libertadores da América, tirando assim os principais torneios da Konami.

Vale a pena comprar FIFA 20?

Diante de tudo o que foi dito nessa análise, pense que apesar de todos os problemas que ainda persistem para nós jogadores, ele ainda se sustenta como um título bem mais completo. Isso ocorre sobretudo no quesito de licenciamentos de times e ligas, tendo as principais ligas e torneios licenciados. Todavia, essa hegemonia de licenças ainda pode ser um problema para nós, jogadores. Eu explico: a Konami, por exemplo, conseguiu a exclusividade de vários times relevantes no cenário mundial como a Juventus, que no FIFA 20 chama-se Piemonte Calcio, um time genérico.

Outro ponto que segue sem muita alteração é a parte gráfica. Pois é, FIFA 20 não implementou nada de muito novo e certamente só o fará na próxima geração. Mas, por outro lado, colocou ainda mais atmosfera nos estádios, algo que faz diferença no processo de imersão. A gente gosta de ver gols, mas também adora os detalhes.

FIFA 20 tem o seu valor, ainda que com ressalvas. Infelizmente, dificilmente os jogos nos agradarão 100%. Isso é frustrante, mas é óbvio. E por esse e outros motivos sigo sonhando com a possibilidade de que uma outra desenvolvedora se torne uma terceira via nos jogos de futebol. FIFA 20 mantém a superioridade este ano, mas com uma curtíssima distância de seu concorrente. Se a EA não abrir o olho, o jogo pode claramente virar.

FIFA 20 foi lançado no dia 27 de setembro para Xbox One, PlayStation 4 e PC, via Origin. No Metacritic, a versão avaliada está com uma média de 79 pontos.

*Review elaborada no PS4 Pro. A cópia física foi gentilmente cedida pela WB Games Brasil, para a realização dessa análise.

FIFA 20

8.5

Jogabilidade

8.3/10

Gráficos e sons

8.3/10

Licenças e imersão

9.0/10

Modos multiplayer

8.5/10

Extras

8.3/10

Prós

  • Ligas e torneios licenciados
  • Ultimate Team e outros modos multiplayer
  • Modo Carreira renovado

Contras

  • O modo Volta não surpreendeu
  • Alguns erros estressantes
  • Ultimate Team desbalanceado

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.