Ruffy and the Riverside | Review
Ruffy and the Riverside mergulha de cabeça na estética desenhada à mão, com personagens e cenários que parecem recortes de papel animados. Apesar das ilustrações lembrarem Paper Mario, a alma do jogo é puro collect-a-thon dos anos 1990 – uma homenagem direta a clássicos como Banjo-Kazooie. Até o protagonista é um urso aventureiro! Os cenários, coloridos e com texturas propositalmente achatadas ao estilo Nintendo 64, estão sempre em movimento, criando um mundo inquieto e cheio de possibilidades.
Aliás, o excesso de informação visual é o trunfo e o pecado de Ruffy and the Riverside: quase toda textura vista pode ser copiada e transferida para outro terreno ou aplicada sobre outros objetos. O estilo poligonal tem um charme próprio ao se misturar com os personagens recortados em papelão, mas nem sempre funciona. Eu assumo que gosto muito desse tipo de plano sobre um mundo tridimensional, contudo não aprecio a rapidez com que as ilustrações se alternam – para aqueles familiarizados com edição de vídeo, diria que o jogo se beneficiaria de um efeito Posterize Time para aproximar a direção de arte de um desenho animado antigo.
Mas… estranhamente, apesar dos tropeços, o charme do jogo supera seus defeitos — a soma das partes é mais cativante que qualquer falha isolada. A aventura parece funcionar muito bem do início ao fim. Fica a pergunta principal: será que Ruffy and the Riverside merece sua atenção? Joguei no Switch 2 e te conto um pouco das minhas impressões nesta análise para o Pizza Fria!
Conte uma história como se fosse 1999
A história é pura fantasia travessa: Groll quer destruir o Coração do Mundo e mergulhar a alegre Riverside no caos. Cabe a Ruffy – “O Escolhido” que nem sabia que era escolhido – salvar o dia! A jornada o leva a regiões mágicas, acompanhado por amigos como Pip (uma abelha atrevida sem papas na língua), Sr. Eddler (um topeiro aventureiro cuja motivação levanta suspeitas) e Silya (uma velha tartaruga sábia). O elenco é carismático, com diálogos em português do Brasil que equilibram humor leve e explicações – às vezes um pouco longos demais, mas sem atropelar o ritmo da aventura.

Jogabilidade
O coração da experiência em Ruffy and the Riverside é o poder da TROCA (SWAP, em inglês). Como disse no começo, ele permite copiar texturas (cores, às vezes) e aplicá-las sobre outras coisas. Os resultados transformam o cenário e criam possibilidades. Por exemplo: uns tubarões malvadões tomaram as piscinas dos peixinhos amigos de Ruffy… O que acontece se você copiar textura de lava e colá-la na água dessa piscina? Moqueca de tubarão!
Talvez exista um tesouro lá no alto de uma cachoeira, mas o urso nem bom nadador é. Basta copiar trepadeiras e lançá-las sobre a água que cai e… agora dá pra chegar lá em cima sem sofrimento. E não pense que é moleza: a textura só fica na “memória” de Ruffy por alguns segundos, portanto todas as trocas têm um alcance limitado.

Apesar do protagonista ter comandos limitados – ele salta, distribui socos e rola sobre bolas gigantes –, a mecânica central da TROCA é explorada em altos níveis de criatividade, como nos memoráveis collect-a-thons de antigamente.
Ruffy and the Riverside está repleto de quebra-cabeças e, claro, objetos para recolher. Não é só trocar texturas, mas coordenar cores para abrir portas, jogos da memória espalhados pelo mundo central, microfases 2D (como aquelas de Super Mario Odyssey), corridas sobre bolas de feno e, entre tantas coisas, moedas para comprar capuzes e gastar nos minijogos.
Destas atividades, vale destacar como solucionamos as curtas fases 2D, “grafitadas” nas paredes, ao usar o poder da TROCA do lado de fora, no mundo 3D. Um exemplo divertido foi copiar dragões dorminhocos para aplicar o sono sobre aqueles que estavam acordados e assim poder avançar. Mas só isso não foi suficiente, pois um gêiser jogava Ruffy para o alto contra um bloco de pedra… Ainda bem que dava pra transformá-lo em madeira, num tronco flutuante!

Tesouros à Moda Antiga
E mais uma vez, como nos memoráveis collect-a-thons de antigamente, os tesouros de Ruffy and the Riverside são os mais variados: são 30 Pedras dos Sonhos, mais 30 borboletas colecionáveis, assim como 30 pequenas criaturas Etois que vivem escondidas por aí. Para salvar o mundo, é preciso até encontrar todas as letras que soletram “RIVERSIDE” nas sete áreas temáticas!
Os tais Etois, umas bolinhas peludas, estão espalhados por todos os lugares num tipo de esconde-esconde – lembra dos Koroks? É bem isso! Talvez uma árvore esteja balançando de maneira estranha… O que você faz? Dá umas pancadas nela?
Nada disso! Transforme-a, sei lá, em pedra, aço ou gelo para que ela pare! A criaturinha logo aparece. Aliás, elas surgem em uma boa variedade de enigmas ambientais. Quem está atento a cada cantinho do mundo num jogo e gosta de explorar, vai se divertir muito.

Cogumelos: Caça às Cores
Uma atividade que soa boba, ainda assim foi uma das minhas favoritas em Ruffy and the Riverside, é a de colorir cogumelos. Funciona assim: ocasionalmente você encontra um cogumelo gigante no cenário (um “cogumelo-mãe”) de uma certa cor. Isso significa que outros 15 cogumelinhos estão próximos, porém espalhados e algo escondidos.
Não só isso: eles estão com cores trocadas e precisam ser revertidos para a tonalidade original do cogumelo-mãe. Esse tipo de caça naturalmente estimula a exploração e a solução criativa de problemas. Sempre que via um, parava a rota principal para resolvê-lo – como se fossem as oito moedas vermelhas em Super Mario 64.

Reclaminhos
Embora Ruffy and the Riverside acerte muito, devo comentar alguns aspectos irritantes do título. Lá no começo já disse como o excesso de informação visual funciona a favor e também contra. Sempre vou considerar ilustrações feitas à mão um charme. Apesar de entender a inspiração poligonal dos jogos de plataforma 3D, o casamento entre planos de papel e cenários cheios de quinas causa estranheza, além de parecer visualmente “sujo”.

A inconsistência visual, aliás, incomoda pouco quando comparada à edição de som. Os temas musicais e as vozes são divertidos como o jogo pede, não se engane, mas são as transições brutas – muitas vezes cortes secos – que ferem os ouvidos. O principal vilão, neste caso, é o protagonista Ruffy gritando a cada corrida ou salto – ao ponto de me fazer exclamar: “Não aguento mais!” Entendo as limitações de estúdios independentes, mas ainda assim, o excesso de falas do protagonista prejudica a experiência.
Por fim, os controles. Como joguei no Switch e no Switch 2, é um desperdício não termos controles de movimento para mirar a TROCA. Durante corridas ou situações que exigem ajustes rápidos de câmera, a resposta pode ser truculenta dependendo do espaço. Se, por um lado, o repertório limitado de comandos de Ruffy não incomoda, por outro, a navegação poderia ser mais refinada.

Vale a pena jogar Ruffy and the Riverside?
Apesar das críticas à direção artística, ao falatório e a problemas técnicos, Ruffy and the Riverside me surpreendeu como um jogo excepcional, com clareza sobre suas inspirações e uma mecânica própria criativa explorada ao máximo.
Ele reúne todos os componentes para um ótimo collect-a-thon e ainda inova. É uma experiência para todas as idades e com apelo até para speedrunners – embora a jornada para 100% leve pelo menos 15 horas.
Difícil não recomendar Ruffy and the Riverside a fãs de plataforma 3D. Com preço acessível (R$ 111,54 na Loja Nintendo), aventura divertida repleta de atividades e localização impecável para o português brasileiro, o jogo transporta você para tempos mais simples, sacia o colecionismo sem ansiedade e é uma ótima pedida para descontrair. Ruffy and the Riverside não só coleciona texturas — resgata memórias de uma era dourada da plataforma 3D.
Desenvolvido pelo estúdio alemão Zockrates Laboratories e publicado pela Phiphen Games, Ruffy and the Riverside estará disponível para Nintendo Switch, PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam e Epic Games Store, nesta quinta-feira, 26 de junho.
*Review feita em um Nintendo Switch 2, com código fornecido pela Phiphen Games.
Ruffy and the Riverside
BRL 111,54Prós
- Mecânica de troca (TROCA/SWAP) criativa e bem explorada.
- Alma própria de collect-a-thon.
- Boa duração (imaginava um jogo curtinho!)
- Variedade de atividades (coletáveis, puzzles, microfases 2D).
- Localização em português do Brasil bem-humorada.
Contras
- Controles abaixo do ideal.
- Edição de som irritante.
- Arte inconsistente às vezes.
- Falta de controles por movimento no Switch (TROCA poderia ser mais precisa).