Sea of Stars | Review

Sea of Stars foi anunciado em 2020 e rapidamente conquistou a atenção de muitos fãs de JRPGs. O motivo? Gráficos deslumbrantes em pixel art e forte inspiração em Chrono Trigger, um clássico do gênero, frequentemente presente nas listas de melhores jogos de todos os tempos. Desde o anúncio, a Sabotage Studio, responsável pelo desenvolvimento e publicação de Sea of Stars, gerou grande expectativa na comunidade, seja através de animações em formato GIF em seu perfil no X ou com trailers e informações reveladas periodicamente.

A verdade é que, agora com Sea of Stars em mãos, o jogo se mostrou uma surpresa, considerando que pouco foi revelado no período de desenvolvimento. Com isso, absolutamente nada preparou os jogadores para a montanha-russa emocional que eles vão experimentar no game. E os motivos por trás dessa reação? Vamos detalhar agora, em mais uma review antecipada do Pizza Fria!

Uma história com futuro!

Antes de mergulharmos em Sea of Stars, um alerta: o jogo se passa no mesmo universo de The Messenger, primeiro título da Sabotage Studio lançado em 2018, mas situado milhares de anos antes. No game, seguimos a jornada de Zale e Valere, os Filhos do Solstício, predestinados a tornarem-se os Guerreiros do Solstício. Abençoados com os poderes do Sol e da Lua, os jovens ainda devem aprimorar suas habilidades para dominar a Magia do Eclipse, a única força capaz de enfrentar as terríveis criações do vil alquimista, The Fleshmancer.

Embora essa descrição possa parecer simplista, a narrativa é profundamente explorada nas 25h que passei na campanha principal. Durante a aventura, os protagonistas se juntam à aliados, como Garl, o Cozinheiro Guerreiro e melhor amigo de Zale e Valere, e Serai, uma personagem jogável revelada recentemente, no trailer de lançamento, entre outras surpresas que não falaremos aqui, para não estragar a experiência. Sem dúvida, os fãs de The Messenger que estão familiarizados com a lore do jogo apreciarão os eventos de Sea of Stars.

Sea of Stars
Garl, Zale e Valere, nessa ordem (Imagem: Divulgação)

A história de Sea of Stars é forte, emocionante e muito bem desenvolvida e amarrada. Talvez o começo seja meio lento e não esteja a altura do jogo como um todo, o que pode acabar desanimando alguns jogadores. No entanto, se você ler minha review e tiver esse sentimento, não desanime. É uma narrativa que vale muito a pena conferir os detalhes, e que te prende conforme você avança no jogo.

Um outro ponto que pode chamar atenção dos jogadores é o final base da história. Para quem jogou e terminou The Messenger, é algo que faz sentido perante a narrativa do jogo inaugural do estúdio, no entanto, pode não agradar a todos em Sea of Stars. Por outro lado, o jogo nos reserva algo que recompensa a conclusão de missões secundárias ao final do jogo. Uma pena que isso só poderá ser visto por uma parcela menor de jogadores, que visam o complecionismo (ou que vão assistir no YouTube, uma baita alternativa hoje em dia).

Sea of Stars
Teaks é uma NPC que se junta à Zale e Valere com seu livro mágico para registrar os acontecimentos de Sea of Stars (Imagem: Divulgação)

Uma verdadeira homenagem aos clássicos…

Sea of Stars inspira-se em vários JRPGs clássicos para sua narrativa, elementos de gameplay, bosses, gráficos e trilhas sonoras. Porém, consegue criar algo original que desperta a curiosidade no jogador sobre as semelhanças com outros jogos já vistos. Encontramos essas referências ao longo do gameplay.

Por exemplo, a aparição do primeiro chefe evoca uma memória nostálgica de Zombie, o boss de Wild Arms no prólogo de Rudy. A movimentação em batalhas e a exploração no mapa remetem a Chrono Trigger, mas há cenários que lembram Castlevania e Chrono Cross, entre outros. A mecânica de pescaria pode ter sido inspirada em Breath of Fire, enquanto algumas das mecânicas de batalha são reminiscentes de Super Mario RPG.

Sea of Stars
Uma inspiração no cenário Divine Dragon Falls, de Chrono Cross? (Imagem: Divulgação)

… e um gameplay bastante original!

Mesmo com várias inspirações, Sea of Stars apresenta mecânicas únicas. Embora seja um RPG de turnos, apresenta inovações que o tornam mais dinâmico e interativo. Semelhante a Chrono Trigger, não há transições entre exploração e combates. Os inimigos são visíveis no mapa e podem ser evitados ou enfrentados. Além disso, o jogo permite que o jogador altere a ordem de qual personagem atacará durante cada turno, otimizando os resultados.

Mas o que mais chama atenção no sistema de combate de Sea of Stars são as travas, que aparecem acima de cada inimigo vez ou outra para representar que um ataque mais forte está sendo carregado. Caberá ao jogador fazer o contra-ataque, dentro do número de turnos especificados, para evitar esse ataque, atingindo-os com os elementos mostrados na tela. Usando como exemplo a imagem abaixo, é preciso acertar, em um único turno, um golpe que tenha os atributos cortantes (2x), contundente e solar. Dentro das características do jogo, isso é impossível de ser alcançado e o ataque será executado. No entanto, caso você utilize alguns dos estilos de ataque exigidos, o PDR, ou a eficiência do golpe, será diminuída.

Sea of Stars
O sistema de travas é um recurso muito interessante em Sea of Stars (Imagem: Divulgação)

No entanto, a situação dos combates em Sea of Stars fica ainda mais interessante porque o jogo conta com outros recursos bem interessantes, ligados à esse sistema de travas. Isso porque cada personagem, ao realizar um ataque comum, pode fazer esse golpe quase que dobrar a eficiência ao apertar o botão de ação (no meu caso, A) no exato momento que acerta o inimigo, fazendo assim, um ataque duplo. Além disso, conforme a narrativa avança, os personagens aprendem combos, combinando suas habilidades exclusivas, o que auxilia ainda mais a quebrar esse sistema e fazer o jogador evoluir. O mais interessante é que tudo isso é apresentado de forma imersiva, com tutoriais interessantes e práticos, que mostram ao jogador como fazer.

Além disso, diferentemente de outros JRPGs de turno onde você tem uma equipe, aqui os personagens não evoluem de forma individual. Toda a EXP ganha em batalha vai para o grupo todo. Logo, a evolução dos personagens é simultânea, independente de qual você utiliza mais no jogo. Uma das coisas que achei bem interessante em Sea of Stars é que, a cada nível alcançado, o personagem ganha pontos bases relacionados àquele nível, mas também pode escolher uma opção aleatória para melhorar ainda mais um atributo específico, como ataque físico, ataque mágico, defesa física, defesa mágica, PV e PM. O game também possui um sistema de equipamentos que podem melhorar o desempenho dos personagens em combate.

Sea of Stars
Um exemplo das opções que podemos escolher ao subir de nível (Imagem: Divulgação)

Um outro recurso bem interessante em Sea of Stars é que o game não tem magias tradicionais de JRPGs, como Fogo, Água, Gelo e suas diversas derivações… Zale usa magias solares, enquanto Valere usa magias lunares. Os demais personagens usam habilidades mais simples, mas ainda assim, bem elaboradas. O jogo também introduz na narrativa um recurso que chama de Usar Magia sem Usar Magia, através de Mana Vital. Basicamente, em todo ataque regular, os inimigos dropam cargas, que os jogadores podem usar para Reforçar os ataques, além de algumas vezes ganhar mais um atributo para quebrar travas. Mecânica bem interessante.

Ainda falando sobre elementos que tornam Sea of Stars único é que, assim como magias, também não há uso de itens tradicionais de JRPGs, como poções para recuperar PV e PM. Garl é um cozinheiro nato, então você deve usar ingredientes encontrados ao longo do jogo para criar pratos que você aprende encontrando receitas ao longo do gameplay, por vezes como parte da narrativa, mas também em baús espalhados pelo mapa ou adquirindo em lojas.

Sea of Stars
Podemos carregar refeições cozinhadas nos acampamentos, ou encontradas prontas em baús (Imagem: Divulgação)

Um jogo que não cansa de surpreender!

Embora as mecânicas de combate de Sea of Stars já sejam impressionantemente sólidas, o título nos presenteia com ainda mais elementos surpreendentes em relação ao gameplay. Além de seus recursos diversificadas, o jogo se destaca com cenas animadas de alta qualidade que retratam os acontecimentos cruciais da narrativa, enriquecendo ainda mais a experiência do jogador. O jogo game oferece puzzles de diversas dificuldades, muitos dos quais envolvem um sistema de dia e noite que os protagonistas podem alterar, além de exploração submarina em áreas específicas, navegação e dois sistemas peculiares de viagem rápida – sendo que um deles é desbloqueado quase ao final da aventura. No entanto, uma das atividades mais prazerosas do jogo é a pesca.

Pescar não é um requisito para a conclusão da história principal, é uma atividade altamente divertida e serve como uma ótima distração para aqueles que buscam ingredientes para cozinhar no jogo ou apenas querem alguns momentos de lazer. Durante a pesca, os jogadores lançam a linha na direção dos peixes e devem recolhê-la quando o peixe estiver dentro de um intervalo específico até atingir a margem. A exploração é incentivada ainda mais, uma vez que alguns lagos oferecem itens valiosos.

Sea of Stars
Pescar é divertido em Sea of Stars (Imagem: Divulgação)

O título também introduz um mini-game chamado Rodas. Neste, os jogadores precisam combinar a energia dos dois personagens do seu lado do tabuleiro, lançando ataques para reduzir a vida da peça central adversária. Com mecânicas diversificadas, é um jogo fácil de pegar o jeito, mas desafiador para dominar, especialmente à medida que os adversários se tornam mais habilidosos conforme se avança na narrativa.

Além disso, Sea of Stars apresenta um sistema de Relíquias, proporcionando modificações no gameplay que, em geral, o tornam mais acessível. Quer que os personagens recuperem vida automaticamente após cada batalha? Ative o “Amuleto de Narrativa”. Deseja reduzir os danos recebidos em 30%? Há a “Aura do Guardião”. E se estiver tendo dificuldade com a sincronização dos golpes para quebrar as travas, a “Brilho Sequente” oferece uma confirmação visual quando você acerta, enquanto a relíquia “Estilhaço Adamantino” faz com que essa sincronização seja automática para ataques regulares.

Sea of Stars
Um exemplo da tela do Rodas (Imagem: Divulgação)

Um audiovisual de outro patamar

Sea of Stars é, sem dúvida, o jogo em pixel art mais bonito e bem elaborado que já experimentei. O game apresenta gráficos incrivelmente detalhados e deslumbrantes, seja em ambientes fechados, cidades, dungeons ou mesmo no mapa. O cuidado e dedicação dos desenvolvedores é evidente em cada pixel. Por curiosidade, joguei no PC em resolução 4K e ativei uma opção chamada “Pixel Perfeito”. Apesar de meus olhos míopes não perceberem grande diferença com a opção desativada, optei por mantê-la ligada, afinal, é um nome sugestivo.

Um dos destaques visuais em Sea of Stars é, definitivamente, o sistema de sombras. É algo impressionante para um jogo desse estilo. Sob a luz do sol ou da lua, o jogo enfatiza as sombras de quase tudo, desde personagens até construções. Esta riqueza visual realça ainda mais o esmero que a Sabotage Studio dedicou ao seu projeto.

Sea of Stars
As sombras do jogo são um destaque incrível no visual (Imagem: Divulgação)

Além disso, durante os diálogos dos personagens em Sea of Stars, que não são dublados, há uma variação nas emoções expressas nos avatares conforme a conversa se desenrola. Esse detalhe, aparentemente simples, revela a profundidade da atenção dedicada ao jogo. Adicionalmente, o título se desvia do convencional ao não reciclar inimigos com simples trocas de cores, como é comum em outros JRPGs. Cada nova área ou dungeon apresenta inimigos únicos, o que enriquece ainda mais a experiência.

A trilha sonora de Sea of Stars também merece destaque. Ela é variada e envolvente, em grande parte graças à contribuição de Yasunori Mitsuda, compositor por trás de clássicos como Chrono Trigger, Xenogears e Shadow Hearts. Embora não seja possível identificar com precisão quais faixas são de sua autoria sem um estudo mais aprofundado, ou ao rolar dos créditos, cada música se harmoniza perfeitamente com a cena em que é apresentada, elevando ainda mais a atmosfera do jogo.

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A emoção de Garl ao ser “amassado” pelos amigos é passada por meio de imagens (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Sea of Stars?

Definitivamente, sim. Sea of Stars se destaca não apenas pelo seu visual pixel art meticulosamente trabalhado e uma trilha sonora cativante, mas também por uma narrativa aprofundada que é realçada por cenas animadas de alta qualidade. A diversidade de gameplay, que varia desde batalhas envolventes até mecânicas inovadoras como a manipulação do sistema de dia e noite e mini-games desafiadores, oferece uma experiência rica e diversificada para os jogadores.

Adicionalmente, a inclusão de sistemas como o de Relíquias que permitem a personalização do gameplay mostra o cuidado dos desenvolvedores em adaptar a experiência ao gosto de cada jogador. Mesmo os elementos secundários, como a pesca, são tratados com um nível de atenção e detalhe que fala muito sobre o compromisso da Sabotage Studio em entregar um produto de alta qualidade. Em suma, para quem aprecia uma aventura de RPG rica em detalhes, mecânicas inovadoras e uma narrativa envolvente, Sea of Stars é uma compra altamente recomendada.

Sea of Stars estará disponível no dia 29 de agosto para Nintendo SwitchPC, via SteamPlayStation 4, PlayStation 5Xbox One e Xbox Series X|S. Além disso, o jogo estará disponível sem custo adicional para assinantes do Game Pass (console e PC) e PlayStation Plus (Extra e Deluxe).

*Review elaborada em um PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela Sabotage Studio.

Sea of Stars

+ R$ 99,95
9.4

História

9.2/10

Gráficos e Sons

10.0/10

Gameplay

9.5/10

Extras

9.0/10

Prós

  • Inspirado nos clássicos
  • Visual deslumbrante
  • Trilha sonora de alta qualidade
  • Gameplay inovador
  • Narrativa imersiva em PT-BR

Lucas Soares

Jornalista e fã de videogames desde criança. Já teve Mega Drive, Game Boy Color, PS1, PS2, PS3, PS4, PSVR, PS Vita, Nintendo 3DS e agora tem "só" um PS5, um Nintendo Switch e um PC Gamer. Para ele, o melhor jogo da história é Chrono Trigger, mas Metal Gear Solid 3, Final Fantasy X, The Last of Us Part II e Red Dead Redemption 2 completam o Top-5.