Yooka-Replaylee | Review
Enquanto boa parte dos remakes tenta apenas polir texturas e corrigir câmeras, Yooka-Replaylee faz algo mais ambicioso: reimagina o que o collectathon Yooka-Laylee (2017) deveria ser em 2025. Desenvolvido pela Playtonic Games e publicado pela PM Studios, o título chega para celebrar e revisitar o original, mas não se contenta em apenas repetir sua fórmula. Na verdade, parece rir dela.
Desta vez, a dupla de heróis coloridos – o camaleão verde Yooka e a morceguinha lilás Laylee – não precisa mais comprar habilidades nem expandir mundos com o progresso. Tudo já está lá, pronto, destravado e livre desde o início. E o resultado é quase libertador: em vez de se preocupar em desbloquear movimentos, você finalmente pode só brincar.
Como quase sempre, digo logo de cara o que penso de Yooka-Replaylee: caso não tenha gostado de Yooka-Laylee, vale dar uma segunda chance neste jogo repensado. Ao longo desta análise pro Pizza Fria, te conto mais ou menos quais mudanças esperar, à medida que evito ser referencial demais.
Uma nova história, uma velha amizade
Yooka-Replaylee começa de um jeito curioso – com humor e um ar de metarreferência que a Playtonic domina bem. A bordo do seu barco caseiro, Yooka e Laylee leem um livro sobre aventuras em busca de tesouros quando uma tempestade os lança em uma ilha misteriosa. Entre os destroços, descobrem um volume especial: O Livro, capaz de transformar em realidade tudo o que nele for escrito.
O problema é que, nas Torres Malfim, o ganancioso Abélio Lucralto e seu cientista maluco de estimação Dr. Quack querem exatamente esse poder – e inventam uma máquina para sugar todos os livros do mundo. Quando a engenhoca entra em ação, O Livro se despedaça e espalha suas páginas douradas, os Folhins, pelos cinco mundos de jogo. É aqui que a aventura começa.
Simples, eficaz e absurdamente carismática, a história funciona como motivação perfeita para quem só quer se perder em mundos coloridos e despretensiosos. E, desta vez, com uma tradução ao português do Brasil excelente – cheia de trocadilhos, piadas e sutilezas que fazem jus ao espírito original com humor britânico reconhecível de outras séries. As falas estão mesmo muito bem localizadas: há trocadilhos que realmente funcionam no nosso idioma e nomes adaptados de forma espirituosa, o que não acontecia na versão de 2017. Aliás, nem tinha tradução.

Refeito, não reciclado
Seria fácil chamar Yooka-Replaylee de remake, mas o termo parece pequeno demais. O jogo pega os mesmos mundos temáticos – floresta, ruínas, gelo, fábrica e capital – e os reconstrói completamente, dobrando a quantidade de desafios, escondendo novos segredos e redesenhando a navegação. Os mapas são agora abertos por padrão, o que elimina a antiga mecânica de “expansão” com colecionáveis. O progresso, portanto, é fluido: o prazer está em explorar, não em destravar.
Esse redesenho faz maravilhas à cadência da exploração. Nosso velho hub central conecta os cinco tomos -mundos – e, em cada um deles, há coisas para fazer a cada canto, sem a sensação de vazio do original. Até a câmera foi retrabalhada, com sensibilidade moderna e controle suave, sem aquele retardo que tanto frustrava em 2017.
Com o movimento integral liberado desde o início, Yooka-Replaylee ganha ritmo imediato. Não há tutorial arrastado, nem personagem te vendendo golpes básicos a troco de penas. A cobra Trowzer continua lá – falastrona como sempre e com a animação chata de atender o celular – mas agora vende apenas melhorias permanentes de saúde, vigor e vantagens adicionais. E, para a alegria geral, essas penas voltam a ter propósito, ainda que mais simbólico: colecionar por prazer e investir no que realmente importa.

Plataforma clássica, alma moderna
Yooka-Replaylee é, em essência, um grande parque de diversões 3D. Saltos, giros, escaladas e planeios voltam com precisão milimétrica. A resposta dos comandos foi retrabalhada, com animações mais nítidas, inércia reduzida e saltos mais confiáveis – o tipo de detalhe que transforma frustração em fluidez.
Cada mundo se apoia em uma identidade própria, um tema, e o jogo é criativo na variedade das tarefas: coletar, correr contra o tempo, encontrar fantasmas-escritores, caçar mollycula para destravar transformações com a Dra. Eni…
Em Geleira Geluzente, por exemplo, viramos um caminhão de neve para remover pilhas e pilhas de gelo – e descobrir segredos escondidos sob elas. É tudo absurdamente retrô, mas com um senso de humor e ritmo perfeitos.
A estrutura de missões também melhora: os cinco escritores fantasmas de cada mundo agora têm desafios distintos – perseguir, alimentar, ouvir risadas invisíveis, ou decifrar enigmas – e cada um concede Pagies adicionais ao serem reunidos. Esse sistema dá gosto em revisitar áreas, pois sempre há algo que você perdeu, uma mecânica nova que se encaixa, ou um segredo que só percebe quando já domina o movimento.

Os colecionáveis que valem a pena
Se o primeiro jogo foi acusado de inflar colecionáveis sem propósito, aqui eles fazem sentido. Os Folhins (o que eram os Pagies em inglês) são agora 300 – o dobro do original – e têm peso direto na progressão. As penas (750 ao todo) funcionam como moeda para melhorias e cosméticos, as moedinhas alimentam a loja da Vendi, e há ainda as fichas pro arcade do Rextro, mollyculas e tesouros piratas espalhados com lógica revisada. Isto é, onde encontrar essas riquezas foi repensado com carinho e dá pra notar.
Essa quantidade impressiona, mas não sufoca, já que o jogo fica muito orgânico e você sai direto de um puzzle ou de um obstáculo, encontra um Folhin novo e já tropeça no seguinte. Cada item tem função clara e recompensa tangível, mantendo o espírito de coletar, mas sem a sensação de trabalho. E, diferente do original, há um mapa integrado com rastreador de colecionáveis, marcadores e até o simpático Mark, o Bookmark, que serve de ponto de viagem rápida entre os mundos. Explorar, agora, é prazer puro, purinho – não castigo nem inúmeras tentativas frustradas.
Transformações, frutas e humor

A variedade de mecânicas é um dos grandes triunfos. Yooka continua usando a língua para engolir frutas especiais – de fogo, gelo, chumbo – e absorver seus efeitos temporários: cuspir projéteis, se tornar pesado, atravessar áreas perigosas. É uma mecânica que remete ao espírito experimental dos anos 90, mas lapidada.
Já as transformações da Dra. Eni seguem hilárias: veículos, máquinas, criaturas excêntricas. Elas não são apenas truques visuais, mas chaves para puzzles e segredos ambientais. Em um mundo de gelo, como disse lá em cima, dirigir um caminhão de neve é necessário para abrir cavernas ocultas; em outro, virar uma flor ridícula que basicamente só esguicha água libera caminho e nos permite falar com personagens plantas antes… indispostos a falar com a gente porque odeiam animais. (E aparentemente a sua versão planta desperta certo tesão nas plantinhas).

Esses momentos injetam variedade genuína e mostram como Yooka-Replaylee não depende mais de nostalgia: ele a domina e rouba, para mim, o título de melhor revival de collectathon indie moderninho de A Hat In Time. O título é bizarro como os jogos da Rare sempre foram, mas com um polimento de anos às escondidas. Eu não me conformo em dizer que o jogo está retocado, pois Yooka-Replaylee vai muito além.
Talvez o carisma de Yooka e Laylee nunca alcance o de Banjo e Kazooie – e está tudo bem. A dupla encontra seu próprio ritmo: o camaleão é o eixo gentil e ponderado; a morceguinha, a faísca sarcástica e falastrona. Soa familiar, né? Há uma química leve e simpática, e o humor funciona sem precisar forçar.
Piadas sobre trocadilhos ruins, empresas gananciosas e heróis esquecidos se encaixam naturalmente no enredo. Os coadjuvantes também brilham: Vendi, a geladeira-vendedora de tônicos, é irresistivelmente excêntrica; Trowzer, a cobra-vendedor, é a piada ambulante perfeita; e Rextro, o dinossauro pixelado, agora protagoniza seu próprio minigame em um arcade paralelo completamente refeito. No lugar dos antigos minijogos cansativos, temos pequenos desafios de plataforma que nos obrigam a encontrar três moedas especiais num estilo que homenageia a era 16-bit com desafio justo.

Tônicos e personalização
Os tônicos, se foram antes coadjuvantes, ganham protagonismo desta vez. São muitos modificadores de jogabilidade (mais de 30) e ainda mais cosméticos – de filtros visuais a trajes cômicos – que permitem ajustar a experiência ao gosto do jogador. Alguns são puramente decorativos, outros alteram a dificuldade, e muitos introduzem vantagens diretas. Entre os mais úteis e que usei do início ao fim: derrotar inimigos com um único golpe; atração automática de penas; modos com músicas da primeira versão ou visuais pixelados.
É um sistema inteligente, porque te incentiva a moldar o jogo conforme sua dificuldade. Quer relaxar e só explorar? Ative um tônico de auxílio. Quer desafio? Experimente um que reduza a vida máxima ou acelere o consumo de vigor. Ou outro que limita o tempo debaixo d’água. É simples, mas eficaz – e, acima de tudo, divertido. Nem eu me reconheço mais, só porque fiz questão de mudar o modelito de Yooka e de Laylee sempre que encontrava um novo.

Um espetáculo audiovisual, controles melhores e ritmo
Se Yooka-Laylee já era bonito para a geração PlayStation 4 e Xbox One, Yooka-Replaylee parece ter tomado um tônico gráfico potente. Texturas refeitas do zero, modelos atualizados, novos efeitos de luz, reflexos em poças e até grama e neve reativas. Sem clichês, o resultado são cores realmente saturadas e vibrantes, quase de animação digital – o título é colorido, nítido e consistente, mesmo em configurações modestas. Joguei no PC (Ryzen 7, RTX 3060) e o desempenho foi excelente, travado em 60 fps, com tempos de carregamento mínimos.
Mas o ponto alto é a trilha sonora. Reorquestrada pela Orquestra Filarmônica de Praga, a música dá um salto de maturidade e escala. Os temas de David Wise, Grant Kirkhope e Steve Burke – lendas vivas do gênero – soam grandiosos e nostálgicos na medida certa. E sim, os personagens continuam “falando” no estilo Banjo-Kazooie, com aqueles sons caricatos e ritmados. É bem ame ou odeie, mas, pra mim, funciona como um charme, pois revive e preserva a identidade da Playtonic e dos jogos nos quais se inspira.
Outra revolução está no controle. Os analógicos têm resposta refinada e a câmera agora é quase perfeita – moderna, ágil e personalizável. Raramente me deparei com momentos de ter a visão encoberta por paredes perdidas ou câmera agarrada em algum polígono. E eu cheguei a rejogar a abertura do original no Xbox… A diferença é gritante.

No fim, o que mais impressiona é o ritmo natural que o jogo assume. Nada de longos trechos vazios ou puzzles arrastados. Há sempre uma nova missão curta, uma conversa espirituosa ou uma área oculta pedindo atenção. O desafio é equilibrado: exige precisão, mas nunca pune demais. O mais difícil mesmo é quando sobra um dos malditos pedaços de Folhin – atualmente é isto que me afasta dos 100%.
Com tantos colecionáveis, os mundos são amplos o bastante para recompensar exploração, mas não tão vastos a ponto de dispersar. Essa proporção é o que faltava ao original, e aqui ela brilha – tanto que as 17 horas de campanha passam como um sopro, e ainda sobra vontade de voltar para coletar o que faltou.
Aliás – também sempre odeio ser muito referencial, mas é inevitável -, um personagem age como marcador de livros e habilita a viagem rápida entre pontos da fase, além de vender a posição de Folhins restantes. Por sua vez, a tela de pausa traz melhorias, um mapa completinho e indica absolutamente tudo que você precisa saber durante a aventura.
E vale dizer: é um dos melhores jogos do gênero desde Super Mario Odyssey. Não por copiar, mas por entender o espírito do collectathon – aquele prazer quase infantil de juntar coisas, descobrir segredos e ver o contador subir, sem nunca parecer repetitivo.

Vale a pena jogar Yooka-Replaylee?
Yooka-Replaylee faz o que poucos remakes ousam: reconhece os erros do passado e os corrige, muitas vezes com humor. A estrutura que antes travava o progresso agora é liberdade pura, fruição. O design que antes dependia de nostalgia agora se sustenta por mérito próprio. Fora estes elogios, fica também o bom exemplo para a indústria e o que ela serve aos jogadores.
A Playtonic parece, enfim, ter encontrado o ponto de equilíbrio entre reverência e reinvenção de um gênero. O jogo conversa com quem viveu a era Rare dos anos 90, mas fala fluentemente com quem nasceu ou continuou jogando durante a era Switch. É, ao mesmo tempo, um tributo e uma nova estreia – e talvez o passo mais maduro que o estúdio já deu.
Portanto… Vale a pena jogar Yooka-Replaylee? Definitivamente. Mesmo quem não gostou do jogo original tem bons motivos para dar uma segunda chance. As melhorias são substanciais: controles, ritmo, visuais, câmera, fluidez, texto e humor, desta vez com tradução, tudo.
É um jogo mais focado, mais divertido e mais consciente do que quer ser. Para quem cresceu entre Banjo-Kazooie, Donkey Kong 64 e Super Mario 64, é um reencontro caloroso. Para quem chegou depois, é uma aula sobre design de plataforma 3D, atualizada para o público moderno. E, o melhor: é viciante, mas sem pressa – confortável, mas nunca fácil.
Em um mercado repleto de remakes preguiçosos, Yooka-Reeplaylee se destaca por entender o que merecia ser refeito e o que deveria ser mantido. No fim das contas, é sobre redescobrir o prazer de explorar – e se lembrar de que coletar coisas pode, sim, ser uma forma de felicidade em pequenas doses de recompensa.
Para minha surpresa, foi um alento MESMO depois de jogar Donkey Kong Bananza e conquistou o lugar de melhor revival do gênero, o que não é pouca coisa.
Yooka-Replaylee será lançado em 9 de outubro de 2025 para para PC, via Steam, PlayStation 5, Xbox Series X|S e Nintendo Switch 2.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela PM Studios.
Yooka-Replaylee
BRL 163,80Prós
- Reestruturação completa dos mundos e da progressão
- Controles precisos e câmera impecável
- Humor espirituoso e ótima tradução ao português
- Trilha orquestrada dá vida ao título
- Visual vibrante e ótimo desempenho
Contras
- Pequenos ajustes de interface ainda desejáveis
- Alguns desafios opcionais poderiam variar mais


