Conversa com Robi Studios, de Blue Fire: da Argentina para o mundo dos games

Blue Fire foi lançado no comecinho de 2021, ainda em fevereiro, e tem recebido opiniões bem favoráveis da crítica e do público.

Talvez você não saiba, mas o jogo marcou a estreia da desenvolvedora independente Robi Studios, fundada pelos irmãos Gabriel e Santiago Rosa. Situada em Córdoba, Argentina, e inaugurada em 2019, a Robi Studios fez com que o jogo deixasse de ser um conceito e virasse realidade em menos de dois anos.

A essência de Blue Fire é feita com pitadas de exploração e muitos desafios de plataforma nas três dimensões, uma espécie de “Celeste encontra Super Meat Boy encontra Super Mario 64“. Na análise para o Pizza Fria, enalteci os controles precisos, a exploração recompensatória e o fato de que todos os movimentos aprendidos pelo jogador serão testados pelo mundo interligado de Penumbra.

Antes da pequena entrevista, você pode conhecer mais sobre a desenvolvedora pelo site oficial (www.robistudios.com) e pelo Twitter (@RobiStudios).

Perguntas e respostas com Robi Studios

Durante os dias de jogatina com Blue Fire, aproveitei para entrar em contato por email com os desenvolvedores e tirar algumas dúvidas. O diretor Gabriel Rosa respondeu, contando um pouco sobre a trajetória do game, inspirações e planos futuros.

🍕🧊 – Como começou a história da Robi Studios? Vocês tiveram algum tipo de incentivo ou de financiamento? Qual foi a maior dificuldade?

Gabriel Rosas – Robi Studios teve início em 2018, quando meu irmão [Santiago Rosa] e eu [Gabriel] terceirizamos arte para jogos enquanto sonhávamos com nosso próprio jogo. Em 2019, decidimos apostar no nosso projeto, deixamos de trabalhar para terceiros e passamos a trabalhar em tempo integral em Blue Fire. Desde então, nossa equipe cresceu e hoje é um grupo de 11 pessoas.

Na Argentina, a indústria de videogames ainda é pequena, mas está crescendo rapidamente. Felizmente, o relacionamento entre todos os membros da indústria é muito bom e sempre há uma disposição muito boa para ajudar os outros e ajudar a indústria a atingir seu potencial.

🍕🧊 Quantas pessoas participaram do desenvolvimento de Blue Fire?

GR – Durante o desenvolvimento de Blue Fire – e até alguns meses atrás – nossa equipe era composta por oito pessoas. Desde então temos procurado incorporar pessoas e crescer como estúdio. Neste momento, somos 11. 🙂

Foto do time Robi Studios no lançamento de Blue Fire. Seus fundadores são os irmãos Gabriel (agachado, à direita) e Santiago Rosa (em pé, à direita) (Imagem: Robi Studios)
Foto do time Robi Studios no lançamento de Blue Fire. Seus fundadores são os irmãos Gabriel (agachado, à direita) e Santiago Rosa (em pé, à direita) (Imagem: Robi Studios)

🍕🧊 – Algumas inspirações são óbvias: The Legend of Zelda: The Wind Waker, Hollow Knight, Dark Souls… Celeste também? Algum outro jogo que vocês sempre tiveram em mente durante o desenvolvimento?

GR – Tivemos muitas influências e inspirações durante o desenvolvimento de Blue Fire, incluindo jogos, filmes, estilos de arte e muito mais. Em relação a jogos específicos, sempre fomos amantes da Nintendo, por isso os jogos Zelda e Mario foram sempre uma grande referência. Ao mesmo tempo, como queríamos produzir uma experiência com desafios maiores, aprendemos muito com jogos 2D como Super Meat Boy, Celeste e Hollow Knight.

🍕🧊 – Vocês pensaram antes na mecânica e depois criaram a história e o mapa?

GR – Eu poderia dizer jogabilidade e estética primeiro e história depois. Esses três aspectos estão superinterligados e não acho que haja uma maneira ou ordem perfeita de abordar isso.

Tentamos projetar, bloquear, polir e trabalhar em todas as três frentes ao mesmo tempo e, de vez em quando, um grande progresso em qualquer uma delas significava que algo teria que ser revisado em outra.

A primeira coisa que fizemos foi construir um documento sólido com o design do jogo, no qual todos os três estivessem em harmonia. Desenvolver e equilibrar essas partes pode ser um processo difícil com muitas discussões e sessões de brainstorming e tivemos que ser flexíveis, sempre focando na jogabilidade antes de qualquer coisa. No final das contas, não acho que haja outra maneira, você apenas tem que deixar o jogo falar por si e que te diga do que ele precisa.

🍕🧊 – E a história de Blue Fire? Como surgiu a ideia? Mudou alguma coisa (ou muito)? Se mudou, algum exemplo?

GR – Tanto a história como quase todos os elementos do jogo foram mudando e se adaptando ao longo do tempo, poucas coisas permaneceram exatamente as mesmas. Algo notável é que, embora tivéssemos escrito nossas ideias e nossa narrativa, o próprio jogo estava pedindo que certas coisas mudassem e se adaptassem ao contexto, aos personagens e ao mundo que criamos.

Em relação à ideia do jogo, sempre fomos fascinados por aventuras, jogos de plataforma, guerreiros e histórias de grandes conflitos, então foi natural. Nos últimos anos, houve vários jogos de plataforma 3D de alta qualidade que obtiveram grande sucesso, mas o gênero foi retratado em temas e dificuldades muito semelhantes à aparência dos jogos de plataforma no início dos anos 2000, que eu acho que visavam principalmente público jovem.

Achamos que seria incrível ter um jogo que se parecesse com este, mas também abordasse temas mais sombrios. Junto com esse retorno das plataformas 3D, houve também um renascimento do gênero metroidvania 2D, que era muito mais sombrio e difícil. Então, pareceu uma ótima ideia misturar todas essas coisas.

Deslocar-se por Penumbra é o grande atrativo de Blue Fire. (Imagem: Divulgação/Graffiti Games)
Deslocar-se por Penumbra é o grande atrativo de Blue Fire. (Imagem: Divulgação/Graffiti Games)

🍕🧊 – Alguma dificuldade em adaptá-lo para Nintendo Switch? Se sim, qual?

GR – Desde que começamos o desenvolvimento, sabíamos que queríamos que estivesse no Switch. Portanto, em termos técnicos, levamos isso em consideração desde o início.

Foi algo muito positivo, pois desde o início fomos muito cuidadosos com as decisões sobre arte, interface de usuário e tudo mais que nos permitisse adaptá-lo para Switch e todas as plataformas com relativa facilidade.

🍕🧊 – Como a Graffiti Games tornou-se a editora? Vocês apresentaram o pitch de Blue Fire ou foram procurados por ela?

GR – Fomos contatados pela Graffiti Games em outubro de 2018. Naquela época, não estávamos lançando o jogo, mas decidimos financiá-lo internamente até que tivéssemos uma versão Alpha para apresentar. Porém, no final de outubro [de 2018], um dos integrantes do Graffiti nos contatou pelo Twitter, dizendo que vinha acompanhando nossos posts nesta rede e que teria interesse em publicar nosso jogo. Fizemos uma ligação onde arremessamos o jogo, e logo depois começamos a trabalhar juntos.

🍕🧊 – Este é um comentário meu feito na análise: gostei da direção de arte, mas muitas das texturas no Switch parecem um pouco cruas ou desconectadas do estilo cel shading. Tive a impressão de que este filtro do modo foto parece ficar melhor no Switch (abaixo).

GR – Durante o desenvolvimento de Blue Fire tivemos que tomar muitas decisões em relação à arte, e como mencionei antes, sempre tendo em mente que o jogo seria portado para Switch. Em muitos casos, tivemos que sacrificar texturas ou alterá-las para ajudar a gerar consistência; em outros, priorizamos a jogabilidade e a facilidade de leitura do ambiente.

Como você disse, muitos jogadores gostaram do visual desse filtro com o resto do jogo, mas por várias razões as decisões finais da arte levaram a outra estética. De qualquer forma, obrigado pela observação 🙂

Blue Fire Screenshot 2021 05 30 19 52 38 Blue Fire

🍕🧊 – Planos para uma continuação? Ou Robi Studios está focada em levar Blue Fire para outras plataformas?

GR – Podemos também estar trabalhando em algumas coisas novas… mas não posso falar muito sobre isso por agora!

Os desenvolvedores se inspiraram em diversos jogos de plataforma dos anos 2000 e os remixaram com conceitos modernos. (Imagem: Divulgação/Graffiti Games)
Os desenvolvedores se inspiraram em diversos jogos de plataforma dos anos 2000 e os remixaram com conceitos modernos. (Imagem: Divulgação/Graffiti Games)

Mais sobre Blue Fire

Blue Fire, da Robi Studios, foi lançado pela editora Graffiti Games no dia 4 de fevereiro de 2021 para Nintendo Switch e para computadores, por Steam. Em julho, o game chegou para Xbox One e PlayStation 4.

Nintendo Switch
Google Stadia
PC com Windows 10 (Steam)
PlayStation 4 (em breve)
Xbox One (em breve)
3.5 GB no Nintendo Switch
5 GB no PC
Desenvolvido por Robi StudiosAventura, exploração, indie, plataforma em 3D
Publicado por Graffiti Games1 jogador
Traduzido ao português do Brasil 🇧🇷10 anos

Para ajudar os aventureiros, a Robi Studios e a Graffiti Games oferecem um guia completo gratuito (arquivo em PDF para download pelo Google Drive da editora).

Por fim, você pode comprar Blue Fire:

  • para Nintendo Switch, por R$ 101,95 pela Loja Nintendo do Brasil
  • para computador, via Steam, por R$ 37,99; versão de demonstração disponível
  • para Google Stadia, pela assinatura Google Stadia Pro
  • para PlayStation 4, por R$ 99,50 e Xbox One, por R$ 74,95. Desta maneira, PlayStation 5 e Xbox Series X|S também rodam Blue Fire.

Carlos Maestre

Jornalista que passou a pesquisar acessibilidade digital pela constante necessidade de inverter o eixo Y - desde GoldenEye 007. Cresceu com a Nintendo e fã da (atual) Microsoft, quer a velha Rare de volta. Além de achar divertido caçar conquistas, sofrerá uma intervenção a qualquer instante por culpa de Stardew Valley.