Lost in Random | Review

Lost In Random apresenta uma premissa interessante. O game tem a proposta de adentrar o jogador em uma narrativa de fantasia sombria e ao mesmo tempo apresentar um gameplay focado no combate com deck da cartas. O primeiro trailer do título logo me deixou intrigado, pois o visual do jogo se assemelhava bastante ao de Alice Madness Returns, obra que eu sou fã. Agora, chegou a hora de sabermos se o game consegue fazer um bom equilíbrio entre mecânicas inéditas e um storytelling cativante.

Lost in Random foi desenvolvido pela Zoink e lançado no dia 10 de setembro para Nintendo Switch, Xbox One, Xbox Series X|SPlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Steam e Origin.

O destino decidido por um dado

Lost in Random se passa um mundo que a vida de todas as pessoas é decidida na rolagem de um dado. Assim sendo, toda criança quando completa 12 anos deve testar sua sorte jogando o objeto mágico. Portanto, quanto maior for o número, mais vantajosa vai ser a vida daquele jovem, que pode tanto servir ao lado da rainha em uma vida cheia de vantagens e luxos quanto ir parar na miséria nos cantos mais pobres do reino, tudo isto decidido apenas por meio da rolagem de um dado. Este aspecto do game logo de cara foi bem interessante.

Pois, no mundo apresentado aqui, não importa a motivação ou esforços que a pessoa exerce em sua vida, o que realmente vale é o número que o dado irá mostrar. Este detalhe fica evidente em diversos momentos do jogo quando nos deparamos com personagens que falam o quanto a vida deles deveria ter sido melhor por todo o esforço feito até a hora da seleção.

Toda está escolha do destino é feita com a portadora do dado, chamada aqui de rainha. Ela é uma figura ameaçadora que tem controle total sobre todos os reinos presentes no game. Embora ela aparente ser totalmente má, mais pra frente no jogo o jogador tem um aprofundamento narrativo sobre as atitudes da personagem, elemento este que se destaca na história.

Lost in Random
A vida de cada pessoa é decidida em um rolar de dados em Lost in Random (Imagem: Divulgação)

Even e Odd

Após uma pequena introdução, somos apresentados a protagonista do game, Even. Ela é uma jovem sonhadora que gosta de contar histórias envolvendo grandes guerreiros. Entretanto, seus amigos não são tão entusiastas nesse assunto como ela, o que acaba tornando a personagem meio distante em questão de objetivos de vida. Pois, entre os colegas da protagonista, temos jovens com grandes ambições, até mesmo de servirem ao lado da rainha.

Outra personagem importante que logo é apresentada é Odd, a irmã de Even. Diferente da protagonista, ela não aprova a forma que Even se empolga contando histórias fantásticas, pois ela diz que isso é perigoso. Após este momento de introdução o gameplay começa, sendo que nosso objetivo é seguir Odd até a casa das irmãs. Logo neste primeiro momento, eu já fui surpreendido, pois imaginava que aqui teríamos elementos plataforma.

Embora o game passe está impressão inicialmente, este não é o caso, pois não teremos aqui momentos de pular em passarelas no tempo certo e nem algo do tipo. Muito pelo contrário, ações como subir escadas ou pulas objetos são feitas automaticamente pela protagonista com o jogador tento apenas que apertar o botão de ação. O mais próximo que o título chega destes elementos, são cenários no qual a protagonista precisa passar despercebida. Assim sendo, neste momento o jogador terá que prestar atenção no timing das ações.

O destino de Odd

Após as irmãs chegarem em suas casas, Odd diz que está preocupada com o dia seguinte, pois é o seu aniversário de 12 anos e também o momento que ela terá que testar a sorte com o dado. Quando o grande dia chega, todos da simples cidade que as duas vivem estão presentes para a seleção, e quando ela joga o dado, ele mostra o 6, o maior número possível. Portanto, agora ela terá que servir ao lado da assustadora rainha. Assim sendo, ela é levada embora, deixando Even, sua família e seu lar para trás.

Lost in Random
A jornada de Even começa quando ela encontra um misterioso fantasma (Imagem: Reprodução)

Um tempo depois deste traumático evento, a protagonista começa a ter sonhos envolvendo a sua irmã e um misterioso fantasma. Está situação faz com que Even questione se deve ou não ir atrás de sua irmã, até que uma noite ela vê o mesmo fantasma em sua casa. Portanto, ela decide segui-lo e isto acaba levando a pequena Even em uma jornada de resgate, no qual seu objetivo principal é encontrar sua irmã e trazê-la para casa. Assim sendo, durante está aventura a protagonista irá conhecer diversos personagens intrigantes, participar de batalhas e descobrir segredos obscuros envolvendo a rainha e todo o reino.

Personagens cativantes com um enredo lento

Lost In Random apresenta um enredo que demora pra engrenar. Pois, na maior parte do tempo, o game está apresentando novos personagens e situações que não estão ligadas diretamente ao objetivo principal. Para exemplificar, temos um determinado momento do game que Even chega em uma nova cidade. Lá ela irá encontrar 3 irmãos disputando pelo trono do local. Para que ela consiga progredir, é preciso que o jogador vá a cada um destes personagens e realize favores para eles, sendo que logo que eles forem cumpridos a protagonista poderá avançar.

O grande problema aqui é que este loop é presente do começo ao fim, o que acaba tornando a experiência lenta. Portanto, em diversos pontos da narrativa eu queria saber mais sobre o que estava acontecendo, porém chegava o momento em que a personagem precisa ficar cumprindo favores para avançar. Este aspecto poderia ter sido mais diversificado no game, talvez com objetivos diferentes ou até mesmo mais profundidade para os personagens que encontramos. Pois, embora a grande maioria deles seja cativantes, não apresentam uma profundidade narrativa que justifique todos eles pedirem favores para a protagonista.

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O game apresenta personagens cativantes, porém a repetição dos seus pedidos acaba ofuscando o desenvolvimento dos personagens (Imagem: Divulgação)

Entretanto, o que acaba compensando são as interações de Even com estes personagens espalhados pelo mundo de Lost In Random. Pois, grande parte deles possui um visual e personalidade única. Portanto, um dos personagens que eu mais gostei foi o prefeito de uma das cidades iniciais do game. Pois, ele é um homem que possuía duas personalidades separadas, sendo que uma delas era pessimista e a outra mais otimista e fã de poemas. Assim sendo, o objetivo da protagonista foi ajudar está segunda persona a construir o poema perfeito. O mais interessante é que quando chegou a hora do combate, este elemento foi usado em conjunto com as habilidades de Even.

Este fator mostra o quão criativo a criação das fases e personagens são, porém, infelizmente o game não consegue atingir o potencial máximo da execução desta criatividade por causa dos fatores repetitivos, como as tarefas que os personagens passam para protagonista. Pois, a forma de solução para estas tarefas acaba sendo repetitiva. No geral, elas sempre envolvem irmos em determinado local da cidade e procurar algum objeto, encontrar alguma pessoa ou derrotar algum inimigo na região. Felizmente, da metade do jogo pra frente a história tem um ponto de virada e as coisas se tornam verdadeiramente interessantes.

Um combate único com deck de cartas

Lost In Random apresenta um combate que mistura rolagem de dados e deck de cartas. Portanto, em determinado do game encontramos Dicey, um dado falante que possui habilidades de invocar armas e habilidades usando cards. Assim sendo, durante os momentos de confronto, Even irá rolar o dado, dependendo do número alcançado é possível invocarmos armas ou vantagens por meio de cartas aleatórias que aparecem a cada rolagem.

Lost in Random
Ao rolarmos o dado podemos invocar armas e habilidades (Imagem: Reprodução)

Para enchermos o poder do dado e o jogarmos é preciso que Even acumule uma energia azul durante os confrontos. Para isto, ela deve atirar em pontos específicos dos inimigos com seu estilingue, sendo que se ela acertar eles irão dropar uma espécie de energia azul que irá aumentar a barra de poder da protagonista. Portanto, quanto mais desse elemento ela acumular antes da rolagem do dado, maiores serão as chances de um número maior cair, o que permitirá que a protagonista use habilidades mais fortes.

Assim sendo, o jogador deixa um deck com 13 cartas pronto, sendo que cada vez que a rolagem é feita, algumas destas cartas irão aparecer de forma aleatória para o player. Se ele tiver alcançado um número alto, poderá ativar alguma dos cards, que incluem armas como uma espada, arco e flecha e até mesmo um grande martelo. Além disso, também é possível selecionar skills como ataques de energia e até mesmo um efeito de cura caso a protagonista esteja com pouca vida.

Durante a campanha será possível darmos upgrades em Dicey, sendo assim, as chances da protagonista alcançar números maiores em combates acaba sendo maior. Além disso, também poderemos aumentar o deck de cartas disponível, sendo que um personagem irá aparecer de forma ocasional nos oferecendo novas cartas, numa vibe bem mercador do Resident Evil 4. Para obtermos estes novos cards, é necessário obtermos algumas moedas. Este item pode ser obtido destruindo pequenos vasos brilhantes pelo cenário, sendo que não é muito difícil obter estes pontos.

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No cenário podemos encontrar pequenos vasos que ao serem destruídos irão fornecer moedas para a compra de novas cartas (Imagem: Reprodução)

Infelizmente, similar ao que acontece com as tarefas, o combate acaba se tornando repetitivo. Este foi um aspecto que poderia ter tido mais variação, pois, mesmo com a compra de novas cartas, a forma de combate mais eficaz acaba sendo invocar uma espada e o arco e atacar os inimigos. Portanto, por Lost In Random apresentar elementos incrivelmente criativos em diversos aspectos narrativos e de história, acaba sendo decepcionante o fator gameplay cair no mais do mesmo.

Um grande jogo de tabuleiro

Em determinados momentos do game, o jogador terá que participar de confrontos que envolvem um grande tabuleiro. Portanto, funciona da seguinte maneira: o jogador começa a enfrentar normalmente os inimigos, entretanto, cada vez que uma rolagem de dados é feita uma grande peça de tabuleiro se move. Assim sendo, o objetivo principal é fazer com que a peça chegue ao seu destino. Este elemento de gameplay acaba tendo grande destaque sempre que aparece, pois, diferente dos modos padrões de combate, aqui temos uma boa variação de ações que o jogador precisa tomar para vencer.

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As batalhas de arenas conseguem ser um grande diferencial na jornada (Imagem: Reprodução)

E não apenas a rolagem de dados é necessária como também uma estratégia para lidar com os inimigos e fazer as rolagens nos momentos certos. Além disso, existem confrontos em arenas que mais ações além da rolagem de dados são necessárias, como atirar em pontos pré determinados com o estilingue ou até mesmo derrotar um grande inimigo.

Chefes que se destacam

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A terrível rainha, um dos chefes mais interessantes apresentados em Lost in Random (Imagem: Reprodução)

Outro elemento que consegue se destacar bastante são os chefes do game. Pois, cada um deles é criado de forma criativa e possui características únicas na sua forma de combate. O prefeito que citei anteriormente, durante o confronto com ele, terá momentos no qual ele citará um poema e Even deve citar a frase correta que se encaixa naquele texto. Portanto, se o jogador selecionar a resposta correta, o chefe perderá uma porcentagem de vida.

Este elemento de criatividade contra estes inimigos mais fortes se mantem por todo o game, o que acaba sendo ótimo e ao mesmo tempo negativo, pois, sempre que chegavam estes momentos eu ficava decepcionado pelos outros aspectos de combate do jogo, sendo que eles não acompanham o mesmo nível de maestria.

Cenarios variados e um level design criativo

Lost In Random apresenta cenários lindíssimos e variados durante a jornada. Cada reino que visitamos consegue expressar a situação das pessoas naquela região. Assim sendo, quando visitamos um local mais pobre e decadente, conseguimos sentir isso pela forma que as pessoas se vestem e se comportam nas ruas, também podemos ouvir conversas no qual eles falam mais sobre está situação e é possível até mesmo fazermos algumas missões secundarias, o que acaba aprofundando o conhecimento do jogador naquele local.

Por outro lado, quando visitamos locais mais avantajados em relação a sociedade, encontramos personagens totalmente diferentes. Sendo que a maioria deles apresenta uma personalidade de superioridade, pois se acham superiores ao cidadãos dos outros reinos. Inclusive, em determinado momento da narrativa encontramos um cidadão que era da “alta classe”, porém acabou decaindo por se envolver em problemas com a rainha. Portanto, este dialogo acaba sendo interessante por mostrar como o personagem lidou com esta perda de “status social”.

O level design do game consegue se destacar por apresentar locais no qual o player pode explorar de diferentes maneiras. Portanto, as vezes precisamos chegar em determinado ambiente para cumprir o objetivo e o jogo oferece vários trajetos para chegarmos lá. Admito que este elemento acabou fazendo com que eu me perdesse algumas vezes na minha jornada, situação está que acaba se agravando considerando que o sistema de mapa do game é confuso. Pois, não fica claro nele em qual localidade a protagonista está e quais rotas deve seguir.

Trilha Sonora

A trilha sonora de Lost In Random é boa, porém não consegue ser marcante. Em momentos de exploração ela costuma ser repetitiva as vezes, tocando sempre a mesma faixa, o que também se repete nos momentos de combate. Entretanto, nas lutas contra os chefes a trilha se torna variada e apresenta tons épicos, o que torna os confrontos ainda mais memoráveis.

Desempenho

Minha experiência foi em um Xbox Series S. Durante toda a minha jornada em Lost In Random eu não tive problemas de desempenho, sendo que os 60 FPS se mantiveram constantes e eu não consegui identificar quedas nem em momentos críticos de combate, no qual aparecem muitos efeitos de explosões na tela. Entretanto, fica evidente que o framerate se mantém constante por causa da resolução dinâmica, o que faz com que algumas texturas aparentem baixa resolução em determinados momentos.

Vale a pena comprar Lost in Random?

Lost In Random apresenta varias ideias criativas que infelizmente não atingiram o seu potencial máximo. Por abusar de elementos repetitivos no combate e construção de quests, o título acaba se tornando uma experiência pouco marcante, entretanto, divertida. Pois, em contrapartida, o jogo consegue entregar chefes altamente criativos únicos, o que torna os confrontos contra eles algo especial na jornada. Além disso, a ambientação consegue expressar bastante as consequências de um desbalanceamento de classes sociais, não sei se realmente foi a intensão está critica, porém ela é feita de forma excelente e subjetiva.

Por fim, Lost In Random é um game que eu recomendo para os jogadores que buscam uma experiência com elementos criativos e únicos, porém o game pode afastar os players que não gostam de um gameplay repetitivo.

*Review elaborada em um Xbox Series S, com código fornecido pela Electronic Arts.

Lost in Random

R$ 149,00
7.3

História

7.0/10

Gameplay

7.0/10

Gráficos e Sons

8.0/10

Extras

7.0/10

Prós

  • Personagens únicos e cativantes
  • Um mundo com visual sombrio
  • Os chefes oferecem confrontos variados
  • As arenas são divertidas e ajudam a variar o gameplay

Contras

  • Os combates são repetitivos
  • A narrativa demora pra engrenar
  • As missões de progressão da campanha poderiam ser mais variadas
  • Ausência de textos em PT-BR

Leandro Paiva

Um estudante de jornalismo e o primeiro estagiário do site. Degustador nato de coxinha e pizza fria com ketchup. Amante de RPG, principalmente aqueles em que é possível pescar em vez de fazer a missão principal. Piadista em tempo integral e um grande degustador de café. Defensor de Birds of Prey e da DC em geral nas horas vagas.