A jornada existencial de The Alters: “e se você tivesse feito outra escolha?”
Durante a gamescom latam 2025, o game The Alters, game de sobrevivência sci-fi que será lançado no dia 13 de junho para PC, via Steam, Epic Games Store e GOG.com, Xbox Series X|S e PlayStation 5, esteve disponível para testes com uma versão demonstrativa. Além disso, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o trabalho da 11 bit studios, conhecida também por ser a responsável por trás de obras densas como This War of Mine e Frostpunk, sobre como o novo título propõe algo mais raro e incômodo a nós, jogadores e jogadoras: olhar para si e perguntar o que poderia ter sido.
Desde o seu anúncio, The Alters vem com uma proposta bem distinta, sobretudo em um mercado saturado por jogos que priorizam gráficos exuberantes e explosões coreografadas. Assim, este novo título surge talvez como um sopro filosófico e existencial, trazendo diversos questionamentos e reflexões pouco observadas no mercado atual.

Nesta entrevista, Gabriela Siemienkowicz, Communication Lead da 11 bit studios, explicou que este não é um jogo sobre clones. É uma jornada íntima sobre versões alternativas do mesmo personagem, moldadas por decisões passadas que foram, ou não, tomadas. Trata-se de um convite à introspecção, com implicações narrativas e emocionais que ultrapassam a tela. Desta forma, confira a seguir uma visão mais ampla do que esperar de The Alters!
Escolhas, identidades e versões de si
Concebido por Tomasz Kisilewicz, diretor criativo da obra, o projeto parte de uma pergunta simples, mas potente: e se você tivesse feito outra escolha na vida? O resultado é um universo narrativo onde o protagonista convive com seus próprios alters, versões divergentes de si, cada um fruto de uma trajetória distinta.
Assim, cada alter representa uma possibilidade abandonada: um “você” que seguiu outra profissão, manteve um antigo relacionamento ou tomou decisões morais diferentes. Para tornar essa experiência crível, a 11 bit escalou o experiente ator Alex Jordan (conhecido por Cyberpunk 2077 e Baldur’s Gate 3), encarregado de interpretar 11 variações do mesmo personagem. A missão: dar vida a vozes distintas, mas conectadas, que expressem conflitos internos reais, mass sem cair na caricatura.
“Você precisa ter uma voz parecida, mas não idêntica”, explicou Gabriela Siemienkowicz. “Porque são pessoas diferentes. É uma das partes mais difíceis do projeto”. A complexidade não é apenas técnica, mas conceitual. O jogo desafia a noção de identidade como algo estático e propõe uma reflexão que flerta com a psicanálise, a filosofia e a ficção científica.

Narrativas que deixam marcas
Para quem conhece a trajetória da 11 bit studios, o caminho de The Alters não soa exatamente surpreendente, embora seja bem ousado. Desde o sucesso crítico de This War of Mine, um jogo que colocou o jogador na pele de civis tentando sobreviver à guerra, o estúdio polonês construiu sua reputação em torno de títulos que vão além do entretenimento. “Queremos que você seja uma pessoa melhor, não apenas um jogador melhor”, afirmou Siemienkowicz, resumindo a filosofia do estúdio.
Em Frostpunk, seu outro sucesso, levou o conceito de city builder a um novo patamar ao inserir dilemas morais complexos em uma narrativa sobre sobrevivência social. Em The Alters, a sobrevivência é psicológica: o maior inimigo é o arrependimento. “O jogo é metaforicamente pesado”, apontou Siemienkowicz. “Esperamos que, ao jogá-lo, as pessoas se perguntem sobre suas próprias escolhas”.
A estética como extensão da psique
Embora não tenha revelado o motor gráfico utilizado, a 11 bit studios confirma que The Alters manterá a identidade visual marcada por atmosferas densas e simbólicas. A estética, como em Frostpunk, não é mero pano de fundo, ela encarna os sentimentos e tensões internas do personagem.
A influência do pintor polonês Zdzisław Beksiński, já sentida em títulos anteriores, deve se fazer presente novamente, ainda que o estilo gráfico esteja diferente. Com seus cenários distópicos e perturbadores, Beksiński é uma referência recorrente na construção de mundos em que beleza e desconforto coexistem. “Se você procurar os trabalhos dele, verá a influência no visual do jogo”, sugeriu Siemienkowicz.

A arte cria mais arte
Durante a entrevista, Gabriela Siemienkowicz reforçou a crença do estúdio de que os videogames são uma forma legítima de arte. E The Alters pretende ser mais um exemplo disso. Segundo ela, o jogo foi inspirado por filmes como Moon, de Duncan Jones, e outras obras que exploram o “e se?” da existência.
“É impossível criar sem ser influenciado”, destacou. “Mas esperamos que The Alters também inspire outros artistas a criarem suas próprias obras”. Para ela, é esse o grande ciclo: arte gerando arte, algo que sustenta a beleza da criação nos jogos.
Um novo espelho para o jogador
A pergunta que motiva The Alters, “e se você tivesse feito outra escolha?”, é tão universal quanto atemporal. E, como toda boa pergunta, não exige uma resposta imediata. O jogo não promete finais felizes, nem soluções fáceis, o que, por si só, já foge da fórmula padrão da indústria de games. Ele oferece algo mais raro: a chance de observar a si mesmo com uma perspectiva externa, com as lentes distorcidas e fascinantes de suas outras possibilidades.
Em um momento em que muitos títulos se contentam em repetir fórmulas, The Alters propõe o contrário: quebrar a estrutura, desorganizar o conforto e obrigar o jogador a sentir. Se conseguir cumprir essa promessa, será não somente um marco para a 11 bit studios, mas uma referência para o próprio meio. Porque, no fim das contas, talvez o verdadeiro final de The Alters não esteja no jogo, mas naquilo que o jogador decide fazer com o que sentiu depois de jogá-lo.

Sobre The Alters
Em The Alters, os jogadores assumem o papel de Jan Dolski, um trabalhador comum que se vê como o único sobrevivente de um acidente em um planeta hostil. Para escapar da ameaça constante de um sol inclemente e manter em funcionamento uma base móvel projetada para uma tripulação inteira, ele precisa contar com os Alters, versões alternativas de si mesmo, criadas a partir de escolhas que ele nunca fez.
Além da narrativa dinâmica e centrada em escolhas significativas, The Alters combina elementos de exploração, gerenciamento de recursos, construção e manutenção da base. A equipe de desenvolvimento inclui membros responsáveis por This War of Mine, título aclamado por sua abordagem séria e impactante sobre sobrevivência em tempos de guerra.