Mexico. 1921: A Deep Slumber | Review

Macula Interactive apresentou recentemente o game Mexico. 1921: A Deep Slumber, que será lançado para PC, via Steam, no dia 13 de setembro, coincidindo com o Dia da Independência do México e durante o Mês da Herança Hispânica. Desta forma, o jogo traz consigo uma grande carga histórica desse país, nos apresentando personagens reais e fictícios, em meio a uma trama política contada por fotografias, páginas de jornais e muitos diálogos. De fato, é uma proposta bem diferente, mas que acabou me chamando a atenção. Sendo assim, se você gosta de histórias reais e narrativas políticas, venha comigo nesta análise, para descobrirmos juntos se este jogo realmente vale o seu tempo!

Uma história intrigante

Mexico. 1921: A Deep Slumber (ou México, 1921: Un Sueño Profundo) nos leva para conhecer a Cidade do México dos anos 1920, recriando diversos lugares, personagens e eventos políticos, nos levando a explorar diversos locais históricos, interagindo com uma infinidade de documentos, jornais e figuras reais desta época, em que o país passava por uma grande atribulação política após a Revolução. Com isso, controlamos Juan Aguirre, um jovem fotojornalista que tem como grande objetivo investigar o assassinato do presidente mexicano, o general Álvaro Obregón. E sim, Obregón, meu xará, foi morto por José Toral, algo que é facilmente encontrado na internet.

Confesso que, como historiador e estudioso dos periódicos do século XIX e XX, fiquei bem imerso na ideia de Mexico. 1921: A Deep Slumber, que nos narra acontecimentos reais, mas, claro, mesclando-a com ficção, querendo nos apresentar inúmeras perspectivas deste evento. E, como a imprensa é algo poderoso neste período, o destaque fica todo em cima dela, citada várias vezes no próprio jogo como a “formadora da opinião pública”, mas nem que isto seja feito de forma politicamente manipulada, algo que o jogo aborda com maestria.

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Periódicos serão constantemente vistos pelo jogo, incluindo alguns reais da época. (Imagem: Divulgação)

Assim, Mexico. 1921: A Deep Slumber apresenta-nos uma experiência imersiva, em que é possível explorar até sete locais históricos, como o Palácio Nacional e o antigo Convento de La Merced. Mas o destaque mesmo fica por conta da interação com diversas figuras políticas e culturais da época. Por último, uma coisa bacana trazida pelo jogo é a ideia de fazermos fotos de diversos acontecimentos, cobrindo ou não objetivos delimitados pelo jogo, sendo possível adquirir mais de 100 itens colecionáveis que oferecem dados históricos adicionais, além de progredir na narrativa.

Neste ponto, Mexico. 1921: A Deep Slumber traz uma narrativa sólida, que nos fazer querer saber mais sobre a história mexicana. E, como tudo vai sendo conduzido, de maneira linear, mas não travada, acabamos conseguindo captar toda a sensação de instabilidade política e de eventual violência por parte de alas políticas insatisfeitas, bem como casos de corrupção em organismos importantes, e por aí vai. Nada que nós, brasileiros, não saibamos lidar cotidianamente, não é mesmo!?

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Tenha diálogos com diversos personagens históricos do México. (Imagem: Divulgação)

Uma jogabilidade bem simples

É nítido que Mexico. 1921: A Deep Slumber não está totalmente preocupado com mecânicas complexas, gráficos realistas ou qualquer coisa do gênero. A ideia central do título é nos colocar como fotojornalistas e, em paralelo, investigadores das coisas que estão ocorrendo ao nosso redor. E tudo isso é muito bem explicado para nós, facilitando algo que já não é difícil. Nossas principais ferramentas serão os diálogos e nossa câmera, que captara provas e outras coisas interessantes. No mais, este jogo de aventura narrativa nos leva a conversar com diversas pessoas e a observar uma recriação da Cidade do México naquela época. E faz isso de maneira extremamente simples, mas funcional.

Aliás, um ponto que achei divertido em Mexico. 1921: A Deep Slumber, foi justamente o de podermos tirar fotografias livremente, ajustando o foco, iluminação e aproximação de um aparelho fotográfico, algo que é essencial para a imersão da era em que estamos situados. Fora isso, andaremos ouvindo conversas de maneira escondida, conversaremos com algumas pessoas e observaremos todo o cenário ao nosso redor. A ideia de Mexico. 1921: A Deep Slumber trazer uma jogabilidade simples assim funciona bem, consolidando-se também com um estilo gráfico muito básico, feito em Unity, permitindo com que o jogo rode facilmente em qualquer computador.

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Use e abuse de sua câmera! (Imagem: Divulgação)

Alguns problemas técnicos

Entendo que Mexico. 1921: A Deep Slumber é um jogo indie e que ganhou alguns prêmios interessantes e tudo mais. Mas é inegável não citar que este título possui alguns problemas técnicos. Por exemplo, a trilha sonora ao fundo, que, por diversas vezes, é cortada, deixando um grande silêncio tomar conta do ambiente. Os diálogos com personagens secundários, que são meros ruídos, com textos legendando o que se passa. Isso sem contar nas animações dos personagens, que travam em alguns momentos, se atravessam e agem de maneira meio estranha. É claro, isso não tira todo o brilho do jogo, mas é um bocadinho frustrante.

Além disso, uma questão que pode atrapalhar alguns jogadores, é que Mexico. 1921: A Deep Slumber só está disponível em espanhol e inglês, não tendo uma localização para o português brasileiro. E, por ser um jogo com muitos diálogos, é essencial entender o que cada um dos personagens e pistas nos dizem. Mas, como eu disse, esses são alguns problemas mais visíveis no jogo, mas que podem ser ajustados ao longo do tempo.

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Em seu diário, será possível ter diversas informações e se guiar pelo jogo. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar Mexico. 1921: A Deep Slumber?

A ideia de Mexico. 1921: A Deep Slumber é muito boa. A história me surpreendeu positivamente, sobretudo pela forma em que somos inseridos nela, incorporando o jovem fotojornalista Juan Aguirre, que se vê na vaga de outra pessoa por uma série de motivos, e, por isso, decide investigar as coisas, fazendo um papel de “meio-espião”. Embora o jogo conte com problemas, como os que citei acima, a ideia é rica e interessante, justificando o reconhecimento obtido nos circuitos de jogos alternativos.

É claro, não dá para comparar um jogo indie com a indústria inchada de jogos AAA, mas Mexico. 1921: A Deep Slumber nos mostra que é possível, sim, fazer um jogo interessante com poucos recursos, sendo a vontade de contar uma história o ponto mais forte percebido aqui. E, neste aspecto, a Macula Interactive conseguiu cumprir seu objetivo, trazendo uma instigante narrativa baseada em fatos históricos. Portanto, se você curte jogos nessa pegada, sugiro que dê uma chance para Mexico. 1921: A Deep Slumber, pois, mesmo sendo bem simples, ele nos ensina muitas coisas.

*Review elaborada em um PC equipado com uma RTX, com código fornecido pela Macula Interactive.

Mexico. 1921: A Deep Slumber

7.4

História

8.8/10

Jogabilidade

7.8/10

Gráficos e sons

7.5/10

Extras

5.5/10

Prós

  • Uma história muito bem contada
  • O uso da câmera traz uma imersão especial ao jogo
  • A narrativa remonta a acontecimentos reais

Contras

  • Alguns problemas técnicos como glitches
  • Alguns diálogos são apenas ruídos e assovios
  • Não está legendado para o português brasileiro

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.