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Carmen Sandiego | Review

Eu me lembro de viver parte da era de ouro de Carmen Sandiego quando criança. Seja no computador do meu vizinho, que tinha o jogo mais tradicional da franquia em um simples DOS, ou assistindo o desenho baseado na franquia. Ambos tinham uma ideia meio que educativa para os fãs, apresentando curiosidades variadas, mas com uma narrativa e uma personagem icônica que era constantemente caçada. Assim, o icônico chapéu vermelho e o sobretudo de Carmen Sandiego são inconfundíveis. Desde então, sempre me perguntei por onde a espiã andava, já que não via mais jogos ou quaisquer outras adaptações desde os anos 2000.

Agora, quase 25 anos depois, a Gameloft e a HarperCollins Productions lançaram um novo Carmen Sandiego, disponível para PC, Xbox, PlayStation, Nintendo Switch, Android, iOS e para assinantes Netflix. Diante de toda essa nostalgia, obviamente muitas questões surgiram em minha cabeça: será que o jogo traz boas novas para essa marca tão esquecida? Ou melhor… será que o título traz aquele sentimento nostálgico dos jogos antigos? Com essas questões, início esta análise especial para o Pizza Fria!

A narrativa

A primeira coisa que fui buscar antes de jogar foi sobre a narrativa do jogo, algo que me deixou instigado, já que era diferente da que eu conhecia. A história deste Carmen Sandiego se baseia na série animada de mesmo nome lançada em 2019 (e eu nunca tinha ouvido falar), e não nos clássicos jogos lançados entre 1985 e 1998. Assim, acabamos por jogar como Carmen do começo ao fim, utilizando seus dispositivos tecnológicos e habilidades furtivas para cumprir missões ao redor do mundo. Ou seja, de uma ladra mundialmente famosa, ela virou uma detetive.

A trama começa quando um ladrão mascarado foge com um jato de camuflagem invisível, interrompendo as férias de Carmen, que está curtindo sua aposentadoria na praia. E, como ninguém está a salvo de uma ligação de trabalho no meio de uma pausa, férias ou seja lá qual for a ocasião, ela recebe uma ligação de Player, seu aliado especialista em tecnologia, que a auxilia durante toda a jornada como uma espécie de guia e assistente. Por conta disso, Carmen Sandiego volta ao jogo. Determinada a rastrear os agentes da VILE, ela se junta à ACME, embora sob o olhar desconfiado de seu chefe, que questiona se ela realmente está do lado certo.

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Carmen Sandiego está de volta! (Imagem: Divulgação)

Misturando o velho e o novo

Em Carmen Sandiego, cada nível se divide em diferentes locais. Assim, temos de reunir informações para identificar o culpado e o próximo destino. Contudo, achei que o tempo disponível foi bem tranquilo, facilitando bastante na caçada. E, tal como o primeiro jogo da série, o tempo disponível vai diminuindo conforme as nossas ações. Assim, nas primeiras buscas, saí visitando cada canto possível para encontrar pistas de sobra e, nem assim, senti que estava prestes a perder o prazo. Portanto, como é possível de perceber, o título mantém a essência educativa da série, transformando cada cenário em uma oportunidade de aprendizado sobre geografia e cultura.

No entanto, ao invés de apenas ler sobre um lugar, temos que aplicar tudo o que nos é apresentado nas pistas e buscas para avançar na investigação, o que torna a experiência mais envolvente do que simplesmente folhear uma enciclopédia. Aqui, preciso mencionar que o jogo ganhou um pouco mais de profundidade. As fases do jogo seguem um padrão: em alguns momentos observamos os agentes da VILE deixando pistas espalhadas pelos lugares, enquanto em outros momentos temos que interagir mais com o ambiente, explorando cenários em terceira pessoa, resolvendo quebra-cabeças.

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Criando as pistas do suspeito, tal como o clássico. (Imagem: Divulgação)

Assim, Carmen Sandiego dá uma refrescada em sua fórmula, dando um pouco mais de dinamismo na jogabilidade, sendo algo muito positivo, nos colocando em ação, para além da mera perseguição do primeiro título da franquia. Mas, nem tudo é perfeito aqui: os desafios propostos são, majoritariamente, simples e acessíveis… mas parecem voltados apenas para o público infantil. Sendo assim, espere quebra-cabeças como conectar palavras certas, destravar cofres e reorganizar cabos, tudo coloridinho e bem explicado. Desta forma, leve em consideração que este é um jogo voltado para o publico infantil, evitando assim a frustração que acabei tendo.

Um jogo meio sem sal

Analisando os aspectos visuais de Carmen Sandiego, ele apresenta um estilo cartunesco colorido e agradável. Porém, não traz grandes detalhes ou animações sofisticadas. Outro ponto a ser observado é que os cenários são bem produzidos, mas muito estáticos. Por fim, uma coisa que me incomodou muito foi a falta de expressividade nos personagens que, junto a ausência de diálogos narrados, apresentando apenas textos em telas fixas, acaba totalmente com a imersão. Desta forma, achei Carmen Sandiego meio sem sal. Seria infinitamente melhor termos animações mais elaboradas ou interações visuais que reforçassem a atmosfera investigativa que o jogo tenta nos proporcionar.

Outro aspecto que poderia ser aprimorado pelos desenvolvedores diz respeito a parte sonora: a trilha musical e a dublagem. Fora a cena de abertura, há poucos momentos com narração, como eu disse logo acima. Assim, essa ausência de vozes em diálogos, importantes ou não, diminui absurdamente o impacto da narrativa, que se resume a resmungos e a textos. Por conta disso, a captura de vilões acaba acontecendo de uma maneira bem anticlimática, sem nos dar aquela sensação de satisfação, que certamente tornaria a experiência de jogo muito mais memorável e divertida.

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Os gráficos são agradáveis, mas as animações acabam por ser limitadas demais. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar Carmen Sandiego?

Olha, o retorno de Carmen Sandiego é sempre muito bem-vindo aos videogames, mas precisamos enfatizar aqui que ele é um jogo educativo voltado para o público infantil. Sabendo disso, dá pra notar que o título busca resgatar a essência da franquia, oferecendo uma possibilidade lúdica de aprendizado. Portanto, crianças e jovens que gostam de mistérios leves e desafios educativos irão adorar seguir a icônica personagem.

Mas, infelizmente, jogadores mais velhos ou fãs dos títulos clássicos como eu certamente sentirão falta de uma maior variedade de desafios e de um nível de interatividade mais profundo, além do problema da imersão, que é bem cortada por conta dos aspectos mencionados ao longo da review, como falta de dublagem e profundidade nas animações. Além disso, a simplicidade dos quebra-cabeças impede que o jogo alcance seu potencial máximo.

Portanto, se o seu objetivo for apresentar um game divertido e educativo para crianças, Carmen Sandiego cumpre muito bem o seu papel. Mas para quem busca um jogo investigativo mais robusto, pode faltar um pouco de profundidade.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Gameloft.

Carmen Sandiego

R$ 88,99+
7

História

7.4/10

Jogabilidade

7.0/10

Gráficos e sons

7.0/10

Extras

6.4/10

Prós

  • Um jogo educativo voltado para crianças
  • Legendas em português brasileiro

Contras

  • Jogo pouco imersivo
  • Falta de dublagem na maior parte do jogo é frustrante
  • Poderia ter mais locais para serem visitados

Álvaro Saluan

Historiador e cientista social de formação, é completamente apaixonado por videogames e escreve sobre o tema há uns bons anos. Vê os jogos para além do entretenimento, considerando todo o processo como uma grande e diversificada arte.